domingo, 27 de julho de 2014

Medo, Prazer e Desejo (Parte 1)

Juliana entrou ofegante no carro e ligou o motor apressada. O coração batia rápido, a respiração curta e sua cabeça girava num turbilhão de sensações. Sua mente flutuava entre fantasias, fantasmas, e realidade. Medo, ansiedade, prazer, desejo, dor, incerteza e a sensação de que saíra de um sonho. Respirou fundo, ligou o motor, mecanicamente acendeu um cigarro e ligou o som, mas não ouvia a música. Não conseguia definir o que sentia. Á medida que fumava, foi relaxando um pouco e olhou ao redor. Não tinha noção das horas, mas uma claridade mostrava que o dia não tardaria a amanhecer. Pelo retrovisor olhou a casa escura. Aquilo não era real, pensou. Finalmente tomou o caminho estreito que a levou a uma estrada de terra. Confusa não conseguia definir o que sentia nem avaliar o que aconteceu. Foi sonho, loucura, foi fantasia que não sabia se era boa ou ruim.

Rapidamente chegou a estrada principal e sentiu o carro deslizar sobre o asfalto. Parecia que voltava à realidade aos poucos, no fim daquela estrada, estava o mundo, o seu mundo e era boa a sensação de voltar para ele mas ao mesmo tempo não sabia se aquilo voltaria a acontecer. Vez por outra esfregava os pulsos doloridos e sentia arder as costas, as pernas, o sexo, o corpo todo latejava. Acendeu outro cigarro, enquanto percorria a estrada deserta pensava como tudo começou de um modo tão infantil e sem importância. Jamais lhe passou pela cabeça o que poderia acontecer, mas aconteceu.


Numa rede de amigos da internet, um homem lhe enviou um e-mail simpático. Respondeu, pensando não haver mal algum. Era tão comum, ouvia tantas histórias. Os e-mails se multiplicavam, os assuntos se desdobravam e não lembrava bem como nem porque começaram a falar sobre sexo. Mas sempre acreditou que não havia outra intenção nisso a não ser falar de fantasias. O tempo passou, foram muitos e-mails, telefonemas, risos, brincadeiras e ele falava de suas preferências, suas fantasias. Despertaram-lhe curiosidade, uma certa vontade de conhecer algo desse mundo mas sempre deixou claro que não era sua opção. Agora pensava, como fora tola. Ele a envolveu, caiu na sua armadilha ao ponto de ter ido aquele lugar. Jamais contaria a alguém o que acontecera, quem conhecera, mas sabia que no fundo, queria que houvesse outras vezes.

Depois de quase um ano de conhecimento, ele era alguém confiável, sabia onde trabalhava, onde morava, tinha seus telefones de casa, do trabalho, celular,encontrava-o sempre que o procurava onde dizia que estaria. Partiu dela a sugestão de se conhecerem, conversar pessoalmente, afinal, acreditava que se conheciam tanto. Agora percebia o quanto ele se empenhou em ganhar sua confiança. Ele dizia que eram amigos especiais e que podiam se encontrar de uma forma especial. A ideia pareceu estranha num primeiro momento, mas ao mesmo tempo, desafiadora e divertida.

Sim, poderiam. E ele nunca marcava o encontro nem aceitava suas sugestões, agora percebia o jogo.

Enfim ele ligou marcando o esperado encontro para o dia seguinte, mas, avisou que seria algo diferente e inesquecível para ambos. Ela concordou. Na manhã seguinte, recebeu uma mensagem no celular, pedindo-lhe que fosse de carro até São Pedro e parasse na praça principal. Ele estaria lá.

Ela passou o dia ansiosa, não estava interessada nele mas sabia que havia a possibilidade de uma transa. Aquelas conversas todas construíram um desejo. Pensou no que usar para parecer sensual sem ser vulgar, sem ser explícita. Adorava o jogo de sedução. Riu para si mesma, fora muito infantil e sentia vergonha de ter se envolvido nisso mas rapidamente se lembrou do prazer, do gozo, relutava em admitir o quanto fora bom e prometeu jamais repetir a experiência. Estava muito confusa.

No dia e no horário combinados chegou à São Pedro. Uma pracinha bucólica, um bom lugar para um encontro. Estacionou o carro e olhou a sua volta. Achou que estivesse adiantada, nenhum outro carro, ninguém parecia a pessoa que esperava. O celular tocou, era ele, com sua voz amigável de sempre, dizendo que estava lá, mas que não iriam se ver ali. Parecia um menino chamando para brincar. Ela riu. Ele pediu que chegasse ao fim do asfalto e entrasse em uma estradinha de terra.

Acabara de anoitecer, a estrada estava escura. Assim o fez e não viu ninguém seguindo-a, nenhum carro. Pensou como ele poderia ter estado na praça e agora estar acompanhando-a a outro lugar. Começou a sentir medo mas ao mesmo tempo achava ridículo, era só uma brincadeira. Seguiu o caminho.

O celular tocou, havia uma mensagem, mandava que seguisse por 1 km e virasse à direita em um portão de madeira escura em meio a uma cerca viva. O portão estaria aberto. Seguiu o caminho e sentia que a situação era estranha mas acreditava estar sob controle. Agora pensava como fora tonta, sem juízo, como se embrenhar num lugar tão deserto com alguém que jamais vira. Mas chegou ao portão, entrou por um caminho de pedras que levava a um pátio gramado em frente a uma bela casa de campo. Parou o carro e buzinou. Ligou para ele que não atendeu. Não havia ninguém e já era noite. Nenhuma luz, nenhuma janela aberta. Começou a sentir medo e se fosse um assalto? Um maníaco? Pensou em voltar quando o telefone tocou, respirou aliviada, ele disse que estava lá e ela lhe falou de seu medo, perguntou o que estava acontecendo, ele a tranquilizou, só estamos brincando, só para ter emoções.

Ela se acalmou. Ele pediu que descesse do carro. Ela obedeceu e ficou esperando a porta da casa abrir, os minutos se passaram, parecia uma eternidade, ligou de novo e mais uma vez ele não atendeu, estava ficando nervosa e irritada, com medo. Pensou em ir embora. Ligou de novo para ele que dessa vez atendeu com uma voz tranquila e encorajadora. Parecia tudo tão normal. Ele riu e falou que não era aquela casa, ela argumentou que não errara o caminho e perguntou onde estava. Ele disse que podia vê-la e que ficasse calma. Pediu que fosse ao fundo da casa e seguisse o caminho de pedras até a piscina. Ela imaginou que ele estivesse na piscina esperando-a e uma sensação boa atravessou seu corpo. Percebeu que estava excitada. Um encontro ao luar, a beira de uma piscina, torceu para que ele tivesse trazido algo para beber. A noite estava agradável e seria um encontro realmente marcante. 

Animou-se e seguiu o caminho. Não havia luz a não ser o luar que iluminava a paisagem.
Vislumbrou a piscina à frente, foi até o quiosque da piscina esperando finalmente vê-lo, mas não havia ninguém. Olhou para os lados, nada aceso, a casa lá em baixo parecia sombria, toda escura. Percebeu que o jardim era bem cuidado. Pensou que estava sendo tola, que era um jogo e ele apareceria. Sorriu e permaneceu no quiosque. Reparou que ao fim da piscina havia uma ladeira que enveredava por uma pequena mata com árvores altas. Esperou ali e nada. O celular vibrou, outra mensagem pedindo que subisse a ladeira ao fim da piscina. Imediatamente ligou para ele que mais uma vez não atendeu. Pensou em voltar, mas queria muito chegar ao final, ver o que aconteceria. Obedeceu, subiu a ladeira e passou pela pequena mata de árvores altas. O coração batia forte, mas era irresistível não prosseguir. Ao fim da mata viu-se diante do vulto de uma construção. Parecia um casarão abandonado, todo escuro. Outra mensagem,mandando-a entrar na casa. Ela sorriu e entrou, a casa estava abandonada, as paredes pareciam estar no tijolo, era antiga. Havia madeiras encostadas pelos cantos, janelas abertas por onde entrava alguma luminosidade.

Acostumou a vista e enxergava vultos de algumas poucas mobílias. Entrou numa sala e foi vislumbrando portas, continuou andando e vez por outra esbarrava em alguma coisa. Assustou-se depois de percorrer todo o andar inferior e ligou para ele. Ele atendeu, ela não queria parecer assustada mas o pressionou, estava boa a dose de suspense, perguntou onde estava. Ele respondeu aqui em cima e desligou. Ela havia visto uma escada e no escuro mal conseguia enxergar o final dela. Ligou o celular para usá-lo como lanterna. Foi subindo com cuidado, havia muitas caixas e pedaços de madeira pela escada. Chegou a um corredor comprido e percebeu que havia várias portas e lá no final, uma luz tênue saia de um dos cômodos. Dirigiu-se apressada para lá, queria vê-lo logo e achava que ainda ririam muito dessa história. A porta estava entreaberta e quando ela a empurrou para entrar, a luz se apagou. Estava muito escuro. Sentiu que havia alguém, ele estava lá. Chamou-o, ele não respondeu.

Sentia a presença de alguém, talvez no canto do quarto, parou para acostumar a vista e chamou-o novamente, nenhuma resposta. A essa altura seu coração disparou e sentia a adrenalina em suas veias. Não conseguia perceber direito o que havia no quarto, lembrou de thillers de suspense, não podia estar acontecendo, mas por outro lado, era como se fosse a mocinha de um desses filmes. Sentiu alguém tocá-la no rosto. Gritou de susto e de alívio. Falou com ele e ouviu um psiu, pedindo silêncio. Ele começou a passar as mãos delicadamente pelo seu rosto como um cego que tenta adivinhar as feições do outro. Ela abraçou-o e sentiu um homem, alto e forte. Também o tocava. Deslizou a mão sobre seu corpo, estava nu. Sentiu que estava excitado e ele também percorria seu corpo com as mãos. 

Estava extremamente excitada, sentiu todo o corpo dele, seu rosto, sua cabeça raspada, começou a explorar com a boca, sentindo-lhe o gosto , sempre em silêncio. Ele abriu seu vestido e com dois toques nas alças, ele caiu a seus pés. Ela deixou cair a bolsa que ainda segurava. Sentiu suas mãos sobre seus seios, suas costas, seu pescoço, encostou seu corpo ao dele e sentiu o quanto o desejava. Beijaram-se, as respirações ofegantes, estava absolutamente louca de desejo e pensou como fora boba, aquela seria uma transa inesquecível. Ele mordia seu pescoço, passava a mão por seus cabelos puxando-os de leve junto à nuca.

Ele colocou as mãos por baixo de seus joelhos e suspendeu-a, ela agarrou-se a ele que deu alguns passos e colocou-a sentada sobre o que lhe pareceu uma mesa. Envolvendo-a, empurrou levemente seu corpo para trás, ela deitou-se pensando em senti-lo. Ele veio, beijou-a debruçando-se sobre ela, seus corpos se tocando, levemente ele segurou suas mãos e esticou seus braços para o alto. Ela sentiu que algo as prendera, percebeu que ele a algemara na mesa. O susto só aumentou seu desejo. Estava louca para senti-lo mais.Ele foi escorregando por sobre ela, beijando-a e descendo com a boca por seus seios, seu ventre, ela abriu as pernas para deixá-lo ir ao seu sexo, mas ele parou e rapidamente puxou suas pernas e sentiu que em segundos seus pés também estavam presos.

Ele parou imediatamente, ela assustou-se, viu-se presa, nas mãos dele. Ele saiu de perto dela e acendeu as velas de um candelabro no outro canto do quarto. Pode ver seu rosto, absolutamente impassível, frio. Sobre a mesa alguns objetos que não conseguia distinguir. Ela perguntou o que ele iria fazer agora, tentou descontrair e ele mais uma vez pediu silencio, pegou uma tira de pano e caminhou lentamente até ela. A mistura de medo e desejo era boa, mas ao mesmo tempo, a deixava confusa, o medo logo superaria o desejo, ela pensou. Ele levantou sua cabeça gentilmente e amordaçou-lhe.

Ele caminhou lentamente até a mesa onde estava o candelabro, ela acompanhava-o com o olhar. Estava em pânico. Ele enfiou sua mão máscula em um recipiente e tirou algo de lá. Um frio correu-lhe a espinha, o que seria, procurou se acalmar ao mesmo tempo que a excitação a sufocava. Ele deslizou suavemente sua mão sobre seu corpo. Sentiu algo frio e molhado, gelo. Sua mão percorria o espaço entre os seus seios, os bicos, desceu sobre seu ventre, subiu novamente até seu pescoço, um rastro gelado e molhado a fazia tremer sem distinguir se de surpresa, frio, excitação ou medo. Sentiu que seus mamilos endureciam e uma onda de prazer molhou seu sexo. Ele brincava com ela, ao mesmo tempo em que suavemente fazia o gelo deslizar sobre seu corpo em partes inesperadas, olhava-a de modo intrigante e frio. Debruçou-se sobre ela, acolheu o bico de um de seus seios na boca.

Beijou-o, lambeu, chupou, puxou, mordeu levemente e depois um pouco mais forte. Estava tonta, com medo, prazer e desejo de entregar-se ao jogo e vontade de ir embora. Dividida, suas fantasias tornavam-se quase palpáveis, imaginava o que viria depois e assustava-se com o que acontecia.

Ele escorregou a mão até seu sexo, ela sentiu o gelo frio e úmido derretendo-se, misturando-se a seus fluídos, contrastando com a quentura de seu corpo. Estava entregando-se a loucura do prazer. Viu-o colocar o gelo na boca e debruçar-se sobre seu sexo, sentiu sua língua percorrendo todo ele, gelada, fria, úmida. Uma onda de excitação percorreu seu corpo, estava prestes a explodir. Como que percebendo o que seu corpo queria dizer. Ele parou de repente. Ergue-se e sem dizer uma palavra, soltou suas mãos e seus pés e tirou-lhe a mordaça.
Ela estava atônita, não sabia o que fazer. Seu impulso foi levantar-se e abraçá-lo, mas, ele afastou-se e com uma voz seca, disse-lhe que podia ir embora se quisesse ou ficar o que significaria que estaria consentindo em continuar o jogo. Ela perguntou o que queria dizer, ele recuou ficando junto à janela, em silêncio. Via o brilho de seus olhos, ela levantou-se e lhe perguntou o que era aquilo tudo, o que ele iria fazer, que jogo estavam jogando, o que deveria consentir.

Seu silêncio a enervava. Começou a gritar que ele era louco, que o joguinho tinha ido longe demais e sentia que ia perdendo o controle. Sentia-se frustrada pela sessão de sexo interrompida ao mesmo tempo em que desejava continuar. Mas era tudo tão confuso, afinal que tipo de homem seria aquele. Ele nada dizia. Ela concluiu que o mais sensato a fazer era ir embora, não assinaria uma carta em branco deixando-o fazer dela o que quisesse. Levantou-se foi até o meio do quarto onde vislumbrou a sombra de seu vestido caído no chão. Pegou-o e esperou que ele dissesse alguma coisa ou parasse com o teatro. Mas o silêncio pesava na sala. O tempo parecia parado. Ficou imóvel um segundo e decidiu ir embora.

Estava entrando numa fantasia louca que sequer era a dela e sentia-se traída, frustrada, enganada. Deu alguns passos em direção a porta com o vestido nas mãos. Parou novamente, precisava pensar rápido. Por instantes lembrou de tudo que não se permitira fazer, do quanto fora reprimida por si própria e pelos outros, percebeu nitidamente sua vontade em ficar e entregar-se uma vez aos seus desejos de um modo real e concreto e por que não colocá-lo nas mãos de outro.

(continua)
Hanneri Parsten

Nenhum comentário:

Postar um comentário